A Global Entrepreneurship Monitor (GEM) tem monitorado o estado do empreendedorismo desde 1999 no mundo, em relação às condições estruturais dos países para o seu desenvolvimento na economia. São requisitos para tal a mentalidade empreendedora, as motivações, as atividades e a ambição.
Embora exista uma tradição dos homens empreenderem mais do que as mulheres ao iniciarem novos negócios, aumentar a participação feminina no empreendedorismo é um importante objetivo de muitos países, como, por exemplo, a Alemanha e o Canadá.
Na Irlanda, a revisão da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)sobre “A Política de PMEs (Pequenas e Médias Empresas) e Empreendedorismo” observou o potencial inexplorado de mulheres empresárias, enquanto o governo na Macedônia do Norte adotou recentemente a “Estratégia e Ação Plano para Mulheres Empreendedoras 2019–2023”. Iniciativas têm sido tomadas até mesmo em países menos desenvolvidos, como por exemplo, Madagascar que tem uma nova política baseada em gênero para apoiar mulheres empresárias (a Iniciativa de Política Fiharianna).
Os níveis do Total de Atividade Empreendedora (TAE) em estágio inicial, por gênero, para os 50 países estudados pela GEM em 2019 estão ilustrados na figura abaixo, onde pode-se observar que o Brasil encontra-se na média entre os países latino-americanos.
Observação importante é que o nível de atividade empreendedora em estágio inicial excedeu 10% da população adulta feminina em 21 das 50 economias no Relatório da GEM 2019. Além disso, apesar da maioria dos países continuar a ter níveis de atividade empresarial masculinos superiores aos femininos, em 2019, três economias participantes do GEM apresentaram taxa de empreendedorismo feminino acima da masculina: Arábia Saudita, Catar e Madagascar.
As taxas femininas comparadas entre países, foram mais altas no Equador (34%) e Chile (32%) e a região da América Latina e Caribe apresentou as cinco maiores taxas de empreendedorismo feminino em estágio inicial da amostra, conforme mostra a figura.
Apesar dos dados promissores de crescimento do empreendedorismo feminino no mundo apontados em 2019, importantes entraves se interpõem ao seu desenvolvimento, tais como: falta de investimentos e de conhecimentos acerca de como funciona o setor, quais as oportunidades existentes, falta de planejamento, demandas familiares / pessoais, impostos e burocracia governamental, razões pelas quais muitos negócios são abandonados.
Segundo destacam a ONU Mulheres, OIT e União Europeia, “somente 8% dos investimentos financeiros são destinados ao empreendedorismo feminino, frente a 16% de projetos liderados por homens, apesar do grande potencial de retorno financeiro que as mulheres apresentam”, destacou a especialista em Investimento de Impacto e Financiamento Inovador do Escritório Regional da ONU Mulheres para as Américas e Caribe, Gabriela Rosero. A formação de redes de networking e matchmaking (relacionamento e encontro de partes interessadas) – unindo quem deseja investir com quem precisa do investimento – foi uma das soluções apresentadas.
Entre os assuntos abordados estavam os desafios de como atrair mais investidores capazes de disseminar novos instrumentos e estratégias para se obter melhoria das condições de inclusão de mulheres como empreendedoras.
Para a diretora regional da ONU Mulheres para as Américas e Caribe, Maria-Noel Vaeza, “é necessário que mulheres aprendam a utilizar o sistema financeiro. Somos esses 50%, mas com uma energia muito forte para remover os obstáculos que enfrentam as pequenas e médias empreendedoras”.
Para a especialista nacional do setor privado do Programa Ganha-Ganha, ONU Mulheres Brasil, Adriana Carvalho, “o intercâmbio de informações sobre estratégias que não foram bem-sucedidas e aprofundar os motivos do insucesso também são uma grande forma de aprendizagem”. Nesse sentido, Christine Kenna lembrou que, no início de seu envolvimento com temas de investimentos voltados para mulheres apenas procurava engajar outras mulheres e, por fim, entendeu que o sucesso dessa iniciativa dependia do envolvimento direto por parte dos homens empreendedores, já que, naquele momento, eles eram os tomadores de decisão. “Sensibilizá-los e engajá-los foi fundamental para atingir bons resultados. Além disso, todos temos que nos esforçar e nos responsabilizar para que cada investidor exerça seu papel”, concluiu.
Esta conclusão serve à constatação da cultura ocidental, capitalista e machista, dominante, que nos provoca a estabelecer uma crítica ao modelo econômico e cultural ocidental persistente, uma vez que construiu e mantém-se por meio da colonização e da subalternização das mulheres.
Com o advento da Pandemia da Covid-19, visualizamos questões que já estavam postas sobre como as mulheres sofrem opressões palpáveis. Ficou em evidência a divisão sexual do trabalho, com cargas laborais dobradas e recursos nas mãos do capital. Foi possível perceber como a tecnologia hoje serve para controlar as mulheres e seus desejos, especialmente por conta das atividades de home-office.
Demandadas por inúmeras tarefas, ao acumularem dentro de suas próprias casas, os afazeres laborais domésticos ou não, devido à pandemia, muitas abandonaram suas atividades econômicas, passando a um estágio de dependência. Deste modo, os dados de 2020, quando divulgados, certamente apontarão os prejuízos originados por esta crise, ao agravar ainda mais este estado de coisas.
Conclui-se pelo exposto que há um longo caminho a percorrer ao estabelecermos as lutas ligadas à agenda feminista antissistêmica para reconstruir o que entendemos como Estado com o modelo de democracia que queremos, com compartilhamento de responsabilidades em todos os espaços inclusive no empreendedorismo.
Fontes:
ONU MULHERES BRASIL, disponível em:http://www.onumulheres.org.br/noticias/somente-8-dos-investimentos-financeiros-sao-destinados-ao-empreendedorismo-das-mulheres-destacam-onu-mulheres-oit-e-uniao-europeia-em-seminario-internacional-sobre-financiamento-co/
Bosma,N. Et all, GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR GEM 2019 / 2020 GLOBAL REPORT, Global Entrepreneurship Research Association, London Business School,
Regents Park, London NW1 4SA, UK